sábado, 13 de outubro de 2012

II



Voar sempre esteve nos sonhos de Paulina. Quando era bem criança, sonhou com seu primeiro voo. Eram em tons de cinza claro, escuro, preto e branco, mas ela insistia em acrescentar outras cores às imagens, indo contra afirmação que sonhamos em preto, branco e cinza. Desde então, o mesmo sonho a visitava sempre – Ela se via voando alto, plainando sobre o bairro onde morava e assistia a vida das pessoas, sentia-se onipresente e onipotente.
Em uma dessas viagens aéreas, viu um senhor se esforçando para colocar um alto falante em cima de uma árvore. Ele era uma espécie arauto das coisas divinas e a menina se compadeceu, tentou descer para ajuda-lo, mas não conseguia aterrissar. E percebeu que voar tinha seu preço e não havia como interferir nas cenas que assistia do alto do seu privilegio de ser quase Deus. 

Simone Fernandes.