Dessas coisas da vida – FLOR DE PAPEL E A ESTÁTUA VIVA.
Nas minhas andanças pela noite do quintal da vida, num dia em que nada estava dando certo, esbarrei com a surpresa, nas escadarias em cerâmicas vermelhas desse mágico lugar. Um tedioso palhaço de nariz azul estava ali exibindo um conhecimento sensacional e eu diria encantador, se não fosse sua forma desnecessária de provar que sabe. Trazia com ele uma cestinha com fragmentos de textos de grandes escritores, ele chamava a cestinha de oráculo. Eu arrisquei a ver o que oráculo tinha para mim, peguei um papelzinho dobrado e ao abri-lo, Clarice Lispector saiu e sussurrou-me: –Divertir os outros, um dos modos mais emocionantes de existir. Entendi, Clarice, entendi...
Sentada em um dos vermelhos degraus, olhos grandes me observavam e parecia que, as minhas palavras encontravam empatia em seu sorriso. Enquanto eu discutia com o palhaço de nariz azul sobre o cuidado de não causar repúdio nas pessoas pela literatura e de usar a arte para agregar e não para segregar, pude sentir os grandes olhos se aproximando e quando o oráculo foi mais uma vez solicitado, ela se apresentou: -Olá! Chamo-me Júlia. Eu respondi: –Oi! Sou a Si. Sorrimos e conversamos sobre alguns textos, contei a ela da minha vontade de juntar gente numa conversa calorosa para aquecer uma dessas noites frias de Julho; ela disse que estará lá, seja aonde for, se não estiver em Portugal. Despedi-me do palhaço e de Júlia e continuei a caminhar pelo quintal...
Depois de algum tempo, topando com algumas cenas, voltei às escadas escuras, sentei num dos seus degraus encantados com um copo de sede nas mãos, estava tudo tão igual. De longe ouço uma voz, cantando meu nome, era a menina dos olhos grandes novamente, que dessa vez sentou do meu lado e contou sobre seus sonhos. Nesse momento pude perceber que algo diferente estava acontecendo. Ouvi-a, atentamente, falar da sua paixão por Tony, um português, que segundo ela, é a primeira estátua viva do mundo; da campanha que seus amigos estão fazendo para ajudá-los a realizar esse sonho de juntar os amores; dos erros e acertos que deu... E de repente uma frase acendeu e iluminou a noite escura –Si, esse amor me curou, penetrou não só em minha mente e coração, mas se instalou em outros órgãos, hoje, como melhor, durmo melhor, penso melhor e reajo melhor... Ele diz que me ama como amam as baleias, há poesia em cada frase que ele me diz e eu não sei mais viver sem esse amor.
O dia clareou, iluminando todo o quintal mágico, nos despedimos e num abraço ela sussurrou –não se faz amigos, reconhece-os. Não some, Si, não some.
Branca flor, sentada na escada espera por seu amor que de longe a nutre com poesias. Flor de papel escreve em folhas, suas letras tortas, enquanto sonha. E o que ela viu, foi apenas a estátua viva piscando no final do filme. Brancura de idéias, clareando as escadarias vermelhas.
Si Fernandes.
A ti, amada, nós oferecemos
ResponderExcluirA tela negra onde brilhará
O verbo em brasa do teu pensamento,
A letra em fogo do teu sentimento,
A escrita em chamas do teu poetar.
Por ti, ó Deusa, fomos ao inferno
E resgatamos do suplício eterno
A folha que no abismo se perdeu;
Roubamos, como Prometeu, de Zeus
A tinta ígnea que canta emoções;
E suscitamos de eras remotas
Um dos mais belos momentos de Si.
Rodolfo é muito fofo, né? Ele já disse amores demais, agora é hora da ameaça fatal: ouse sair outra vez dessa joça e tu vai ver só, pássara abandonadeira!
ResponderExcluirFoi com muito amor essa construção. Mutável, obviamente, para se adaptar ao seu gosto.
Seja bem-voltada, porque seus verbos vermelhos fazem imensurável falta por essas bandas.
E tenho dito!
Beijo, beijo!