IV
O dia estava nublado, um tom de
chumbo cobria todo o céu, ela olhava para o alto como se tentasse lembrar algo
que lhe pudesse dar alguma esperança. Nada era capaz de ativar suas recordações
e um misto de temor e contentamento tomou conta do seu corpo ressequido e
fraco. Trazia junto a si uma espécie de aljava e uma foice. E não se
intimidou ao encarar a montanha que haveria de escalar, apenas, suspirou como
um choro engasgado, contido e prosseguiu até chegar ao cume daquele derradeiro
desafio.
A montanha era coberta de uma
terra preta e fofa fazendo com que os
passos daquela dura caminhada fossem menos dolorosos. Como se a natureza
ofertasse sua parte no sacrifício. O céu, nesse momento, parecia mais perto e
os olhos que já não sabiam mais chorar, derramaram uma lágrima que saiu quase
como um grito e rolou pelo seu rosto até chegar ao solo. Com determinação
segurou a foice e deu o primeiro golpe forte e sem remorsos. Toda montanha
parecia gritar de dor e veio o segundo golpe, e assim, conseguira ferir a
terra. Em silencio e com semblante decaído retirou da aljava algumas sementes
que brilhavam como o sol e as enterrou ali. E nesse momento, seus sonhos
saltaram, estavam todos eles bem na sua frente. Suas lembranças vieram como um
relâmpago e explodiram em seu peito. Paulina, sentiu-se vazia de si mesma.
Simone Fernandes
Paulina vive gritando, um grito silencioso, sem muita vontade de ser escutado, né? Está sempre na linha tênue entre partir e ficar... E eu gosto porque ela sempre fica, e segue o seu grito mudo, ecoando pra dentro.
ResponderExcluirE segue.
Beijo, pássara·
A montanha está grávida dos sonhos concebidos por Paulina. Em seu ventre, escuro, quente e úmido como um útero, embriões serão fetos e fetos serão nascituros, e a montanha dará à luz os sonhos de Paulina. Aguardemos.
ResponderExcluirBeijos, obstetra de montanhas.
Suspense e angústia nesta narrativa...
ResponderExcluirParece passagem de uma história maior que está guardada, em fase de retoques...
Será?
Abraços, Si!
Hum...trem estranho esse. Será que já havia lido Paulina em tempos outros? Uma sensação de dejavu. De qq maneira que nasçam todos os que estão em gestação. Nenhum será abortado!
ResponderExcluirBeijuuss, cheios de mim, procê
Olá, Si!
ResponderExcluirEu já ia reclamar com a sua mãe sobre a sua ausência, pedir pra ela lhe colocar de castigo! kkkkkk
Bjs!
Rike.
Si amaaaaada!
ResponderExcluirPosso contar com vc no nosso dicionário? Tá valendo qualquer uma...mas que seja bem sua...como muitas que já ouvi de vc.
Beijuuss n.a.
P.S: se não quiser tem problema algum!
Somos todos feitos desse indecifrável caminho que atravessa séculos .
ResponderExcluirSomos feitos dessas dores ,desses sonhos , e dessa grande adíposidade poética que inauguramos diariamente , em nós .
Excelente ,Simone !
até no desamparo eu vi beleza !
Beijo Gigante