Voar sempre esteve nos sonhos de Paulina. Quando era bem
criança, sonhou com seu primeiro voo. Eram em tons de cinza claro, escuro,
preto e branco, mas ela insistia em acrescentar outras cores às imagens, indo
contra afirmação que sonhamos em preto, branco e cinza. Desde então, o mesmo
sonho a visitava sempre – Ela se via voando alto, plainando sobre o bairro onde
morava e assistia a vida das pessoas, sentia-se onipresente e onipotente.
Em uma dessas viagens aéreas, viu um senhor se esforçando
para colocar um alto falante em cima de uma árvore. Ele era uma espécie arauto
das coisas divinas e a menina se compadeceu, tentou descer para ajuda-lo, mas
não conseguia aterrissar. E percebeu que voar tinha seu preço e não havia como
interferir nas cenas que assistia do alto do seu privilegio de ser quase Deus.
Simone Fernandes.